Elvira Souza Lima
Do meu lado no caixa eletrônico do banco, um rapaz é ajudado pela funcionária que lhe pede, em determinado momento, o ano de nascimento. Ele diz que não sabe. "O ano em que você nasceu", a moça tenta esclarecer, surpresa. E a resposta é a mesma, "não sei". Não pude deixar de olhar para ver se era uma pessoa de etnia indígena. Já trabalhei em tribo em que a vida não é marcada pela cronologia do dia, mês e ano de nascimento, por mais que isto possa parecer lógico para grande parte da população mundial. Para tais grupos, a vida é marcada pelas passagens pelos ciclos da vida, que não têm a cronologia do nosso calendário. O rapaz então explica que na terra dele não conta aniversário. Surpresa geral das pessoas em volta. "E fica no Brasil?" pergunta alguém. Mas lógico que fica no Brasil, este país-continente que tem de tudo. Impasse, já tem ali uma rodinha de pessoas, curiosas. Alguém sugere olhar na carteira de identidade. Neste momento encerrei o que estava fazendo e me fui, sem saber qual o final da história. Dei uma olhada rápida e lá estavam umas 8 pessoas falando ao mesmo tempo, o rapaz e a atendente. São tantas as culturas que convivem neste nosso país, mas um traço forte, talvez, em todas elas é esta coisa que temos de tornar em um evento público pequenas coisas que acontecem no cotidiano.
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